segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O MASSACRE DOS INOCENTES

90.000 Docentes impedidos de aceder às classificações de Excelente e Muito Bom

Já vos dei conta, neste espaço, da publicação do  Despacho n.º 12567/2012 que estabelece os universos e os critérios para a determinação dos percentis relativos à atribuição das menções qualitativas aos docentes integrados na carreira e comentei genericamente as suas consequências.

Hoje, é o primeiro dia do 38.º ano da minha carreira de professor do ensino básico e secundário. Considerava eu que quaisquer que fossem as decisões do senhor Crato, pouco ou nada me afectariam. Pura ilusão. A minha sensibilidade e indignação levaram-me a analisar os efeitos do citado despacho. Para isso consultei o site da Inspecção Geral da Educação http://www.ige.min-edu.pt/ e foquei a minha observação na avaliação externa das escolas da área da Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo. A consulta exaustiva e tratamento estatístico das avaliações obtidas pelas escolas da DRELVT no período 2006/2012 permitiram obter os seguintes dados:

AVALIAÇÃO EXTERNA DAS ESCOLAS DA DRELVT                                                                                   
ESCOLAS AVALIADAS (1)
COM CONTRADITÓRIO APRESENTADO
CUMPREM CRITÉRIOS
NÃO CUMPREM CRITÉRIOS
PERÍODO 2006-2011
(com inclusão do período experimental de 2006)
356
120
104
252
100,00%
33,71%
29,20%
70,78%
PERÍODO 2011-2012 (2)
(novo ciclo de avaliação)
12
3
4
8
100,00%
25,00%
33,33%
66,66%
Fonte: Inspecção Geral da Educação;
(1)     - Não foi feito o levantamento de dados à escala nacional por desnecessário para a compreensão do problema e porque nem todas as escolas foram avaliadas no período 06/11
(2)     em 2011/2012 encontram-se em avaliação mais 72 unidades de gestão na área da DRELVT
  •      71% das escolas avaliadas (período 06/11) não cumprem os critérios exigidos para a eventual atribuição das menções de Excelente e Muito Bom;
  •        67% das escolas avaliadas (período 11/12) não cumprem os critérios e uma delas cumpriu os critérios no período anterior.
·     29% das escolas avaliadas (período 06/11)   cumprem os critérios com a seguinte distribuição:

DISTRIBUIÇÃO DAS ESCOLAS PELOS CRITÉRIOS
Critério a)
5 MUITO BONS
Critério b)
4 MB + 1 BOM
Critério c)
3MB + 2 B
Critério d)
2MB + 3 B
Critério e)
1MB + 4 B
TOTAL
7
11
25
33
28
104
6,73%
10,58%
24,04%
31,73%
26,92%
100,00%

Comparando os resultados obtidos pelas escolas e o que é exigido aos docentes em cada critério, conclui-se que À MEDIDA QUE O PADRÃO DE EXCELÊNCIA DAS ESCOLAS DECRESCE, AUMENTA PARA OS DOCENTES O GRAU DE DIFICULDADE DE ACESSO ÀS MENÇÕES DE EXCELENTE E MUITO BOM:
Ø  No Critério a), que corresponde a 5 Muito Bons, o docente poderá eventualmente alcançar Excelente com um percentil 90 e Muito Bom com um percentil 65;
Ø  No Critério e), que corresponde a 1 Muito Bom e 4 Bons, o docente poderá eventualmente alcançar Excelente com um percentil 94 e Muito Bom com um percentil 73.

 A amostra constituída pelas escolas DRELVT é significativa relativamente ao universo de escolas do país, pelo que se pode inferir sem margem de erro que 70% das escolas não cumprirão os critérios à escala nacional. Como 70% das escolas representarão em termos médios 70% dos docentes e como devemos ser actualmente 130.000, cerca de 90.000 docentes ficarão impedidos de aceder às classificações de Excelente e Muito Bom. Restarão 40.000 com essa possibilidade que, com a aplicação das quotas, talvez fiquem reduzidos a 4.000. É um grande número, uma vitória para o senhor Crato. SEM APELO, MAS COM AGRAVO NAS NOSSAS CARREIRAS E NAS NOSSAS VIDAS.

 QUEM SÃO OS INOCENTES?
  •     Os 130.000 docentes sabiam destas consequências da avaliação externa? Claro que não!
  •    Os senhores inspectores que participaram no processo de avaliação sabiam destas consequências da sua apreciação? Claro que não! Se soubessem, nunca avaliariam uma escola com 4 Muito Bons e… 1 Suficiente no domínio “Capacidade de auto-regulação e melhoria do Agrupamento”! É exactamente este domínio que impede inúmeras escolas de cumprir os critérios de forma assertiva. É um domínio que depende muito da existência de conhecimento e massa crítica, mas o MEC desinvestiu completamente nessa área, no entanto não se coíbe de exigir e penalizar, escolas e docentes.
  •  os órgãos de direcção, administração E gestão das escolas sabiam destas consequências da avaliação externa? Claro que não! Se soubessem, existiria um mar de protestos e o número de contraditórios aumentaria substancialmente, mesmo sabendo que seriam indeferidos.
  • O Conselho de Escolas sabia destas consequências da avaliação externa? Suponho que não! Mal seria se omitissem dos seus pares informações tão relevantes.

MAS ALGUÉM NÃO ERA INOCENTE E SABIA DESTAS CONSEQUÊNCIAS!

A primeira edição dos Prémios de Mérito remonta a 2007, com a atribuição do Prémio Nacional de Professores a um docente de uma escola de Aveiro. Nas edições seguintes, foram distinguidos docentes de uma escola do Porto e de uma escola de Loulé. Estes Colegas não poderão ser classificados como Excelentes ou Muito Bons porque as respectivas escolas não atingiram na avaliação externa classificação compatível com os critérios definidos. É a suprema ironia… o melhor fundamento para medidas tão infelizes e arrogantes.

…e disse o senhor Crato que a nossa profissão é linda…

Poderá encontrar AQUI um ficheiro que contempla a situação das escolas da DRELVT já avaliadas. Caso pertença a outra Direção Geral de Educação consulte o site da Inspeção Geral da Educação http://www.ige.min-edu.pt/

NÃO POSSO CALAR O  MEU DESENCANTO E TRISTEZA AO FIM DE 37 ANOS DE SERVIÇ0!

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